quarta-feira, 5 de março de 2014

Coreia do Sul

Depois de tanto tempo sem escrever aqui, volto nesse 2014 que começou maravilhoso em todos os sentidos. Viajar é um grande prazer pra mim. Se tivesse grana e tempo, viveria assim.
Ainda no inicio de 2013 eu decidi que queria conhecer a Coreia do Sul e o Japão. Inicialmente era somente a Coreia, mas pela proximidade e o preço legal, acabei incluindo o Japão também.
Conhecer a Coreia do Sul passou a ser um objetivo meu, desde que hospedei aqui na minha casa uma amiga muito querida, coreana, chamada Yoonkyung Choi. Ela veio estudar português e atualmente vive em São Paulo. Eu não sabia, mas o contato com ela facilitaria demais a minha vida durante essa viagem. Espero que esse post não fique longo demais. Vou tentar descrever rapidamente todas as etapas dessa minha aventura que durou praticamente um mês.
Viajei pela Air China, mas há diversas empresas que atualmente fazem o trajeto São Paulo - Seul, com conexões em diferentes lugares do mundo, como a Emirates, Korean Air, Etihad Airways, Delta, United, dentre outras. Essa foi a primeira vez que fui à Coreia, então não experimentei outras empresas nessa rota ainda, mas posso dizer que fiquei satisfeito com a Air China (levando em consideração a relação Custo x Benefício), comparando com outras companhias em que viajei pra Europa em outras oportunidades. Nenhum atraso, serviço de bordo bom e absolutamente nenhuma complicação na hora de comprar e acompanhar a passagem. Já me falaram que outras empresas são melhores, mas essa, no momento que comprei, estava com um preço muito legal, então aproveitei. Uma coisa que eu prestei atenção foi com relação às conexões. Como não queria ter que tirar visto de trânsito pra nenhum lugar, decidi por essa passagem, que tinha conexão em Madri e depois em Pequim, lugares em que brasileiros não precisam de visto de trânsito. Se a conexão fosse nos EUA, precisaria, e isso é um fator de complicação pra mim. 


Na conexão em Pequim


Sala de espera


Foi uma longa viagem. Quando cheguei pra fazer a conexão em Pequim, estava realmente exausto. Minha cabeça estava completamente confusa com os horários, mas faltavam só mais duas horas pra chegar à Seul, então respirei fundo e.....cochilei um pouco porque ninguém é de ferro. 
Depois de 31 horas viajando, finalmente estava na Coreia. Como um quase-nerd que sou, a primeira coisa que fiz foi procurar por algum sinal de wi-fi (a Coreia do Sul tem a internet mais rápida do mundo) no aeroporto. Pra minha surpresa, encontrei bem rapidinho. A velocidade era impressionante de verdade (taí uma coisa que dá saudade todo dia). Pude me atualizar das coisas e falar com a Yoonkyung, que me disse que a família dela já estava me esperando na saída. Quando saio no desembarque, eis que me deparo com isso:




  
Depois de um pequeno nó na garganta, pude agradecer a recepção tão amável (Com direito a abraços, coisa que coreano em geral não faz muito, ainda mais com uma pessoa que nunca viu na vida). No caminho da casa, a senhora Choi, que é a mãe da Yoonkyung, me deu um monte de kimbap, que tinha preparado em casa. Que emoção comer Kimbap na Coreia. Estava delicioso.





Pronto, tive o primeiro contato com meus anfitriões. Daí vocês me perguntam, "como conseguiste falar com eles?". Bom, obviamente eu não falo coreano (ainda), mas a Ji Sook (de quem eu virei praticamente a sombra), irmã mais velha da Yoonkyung fala inglês, e isso foi o que salvou minha pele, não que o meu inglês seja "aquela coca-cola". Na verdade é uma porcaria, mas nunca uma coisa me ajudou tanto em lugar quanto o meu parco conhecimento de inglês. Um abraço pros meu professores na Minds English School (as aulas de conversação funcionam mesmo). 
Nesse dia ainda fomos em um parque que fica pertinho do estádio da copa do mundo e um mercado, bem rapidamente, pra comprar algo pra comer em casa. Era um lugar bem legal, mas foi bem rápido porque eu estava muito cansado e precisava dormir um pouquinho.



Lago congelado no parque perto do estádio da copa


Eu e o Sr. Park batendo aqueeele papo

Nesse mesmo dia, depois de algumas merecidas horas de sono, jantamos na casa com uma grande amiga minha, Laura, que estava passeando em Seul junto com o namorado, Luke, que é da Austrália. O cardápio foi um prato coreano muito famoso, que tem um nome complicado, e que a pronúncia soa como um negócio feio aqui no Brasil: tteok-mandu-kuk. Quem tiver alguma curiosidade sobre esse nome, pode ver esse ótimo post explicando. No final, fizemos uma foto oficial desse encontro de "mundos".




É difícil falar aqui de todos os lugares em que estive sem fazer esse post ficar gigantesco, mas também é impossível não citar alguns. 
Fomos aos arredores do palácio Gyeongbokgung, em frente de onde fica a estátua do Rei Sejong, creio que o mais importante rei coreano, que foi o responsável pela criação do alfabeto coreano. Talvez esse seja um dos lugares mais famosos da Coreia.



Entrada do Palácio Gyeongbokgung



Um lugar que queria conhecer era o Cheonggyecheon. É um pequeno rio de Seul (não confundir com o Rio Han). Ele tem uma história interessante que, em resumo é que, de tão feio e poluído, decidiram colocar uma cobertura de concreto por cima dele. Depois de algum tempo resolveram mudar as coisas. Ele foi limpo, despoluído e se tornou ponto turístico. A história toda está aqui, pra quem tiver curiosidade. Agora realmente é um lugar lindo. O custo das obras gerou muita discussão, mas agora é um orgulho para os coreanos. 







Como muita gente sabe, a comida coreana tem muita pimenta. Isso é um pouco estranho pra quem não está acostumado, porque realmente é uma quantidade muito grande. Eu já sabia o que ia encontrar porque já gostava da comida coreana antes de ir pra lá, por conta dos meses que a Yoonkyung passou aqui em casa cozinhando algumas coisas pra mim. E uma das primeiras experiências foi justamente o preparo da pimenta, que é usada no preparo do Kimchi, principal prato coreano, e também usada nas outras refeições. Elas são secas ao sol e depois precisa tirar o talo, pra poder moer e virar pó.


Sr. Park com as pimentas




Vou deixar pra falar sobre a comida num post à parte, porque realmente merece.
Uma coisa impressionante na Coreia é como o antigo e o novo convivem lado a lado. Isso pode ser notado com muita facilidade em diversos pontos de Seul, onde portões antigos como a própria Coreia estão ao lado de edifícios modernos. Dentre outros, no Sungnyemun gate, a gente pode perceber isso bem claramente.



  

Outro lugar que gostei muito de visitar foi o Memorial da Guerra da Coreia. Já li muita coisa sobre esse conflito que dividiu a Coreia em duas partes e matou alguns milhões de pessoas, mas no memorial pude ver de perto a história contada por meio de coisas que foram usadas, aviões, armas, navios, etc. Muito triste, mas um bom meio de lembrar o quanto uma guerra pode ser devastadora. 







Em qualquer cidade asiática existe sempre um lugar alto, que pode ser uma torre ou edifício, de onde você pode ver toda a cidade. Em Seul esse lugar é a N Seoul Tower, ou simplesmente Namsan Tower. Esse é um lugar muito especial e tem uma visão magnífica da cidade toda, principalmente à noite. Quando fui lá, estava frio, mas fez um dia muito bonito. Vale ficar algumas horas por lá.


N Seoul Tower

Rio Han visto da torre


Seul à noite

  

Visitei também uma cidade que fica a mais ou menos uma hora de Seul. Suwon é um lugar muito bonito. Passamos só um dia lá, mas deu pra conhecer bastante. Tem muitos lugares históricos, mas nos concentramos no Hwaseong fortress, que é nada mais que o muro que cercava a cidade antigamente. Como sempre, tem portões muito bonitos. Andamos bastante. Nesse dia eu estava acompanhado pela Ji Sook, a Yuni (que chama Yunhee, na verdade) e seu marido.





Hmmmm





Ji Sook e eu num jantar incrível, depois de andar o dia todo


Uma coisa que achei demais na Coreia são os mercados. Show de bola mesmo. Andar por eles é uma festa para os olhos e o paladar também: Namdaemun Market, Noryangjin Fish Market, Kwangjang Market (nesse fui com bastante tempo livre), são a própria essência da Coreia, pelo menos foi assim que eu senti, porque pode-se encontrar de tudo, com muita qualidade, ver pessoas de todo tipo, comer as comidas mais variadas, desde as tradicionais e mais conhecidas como Kimbap, Kimchi, Mandu até coisas realmente exóticas (pra nós, ocidentais), como sashimi de carne boi e lula viva, aliás, em todos eles você pode encontrar peixes e todo tipo de frutos do mar vivos, fresquinhos. Uma maravilha. 


 Kwangjang


Lojinha que só vende Kimbap




Sashimi....de carne de boi

Noryangjin 






Namdaemun 


Visitar a Coreia é também conhecer um pouco da história recente, que é muito bem contada nos museus e memoriais que são dedicados a isso. Ainda em relação à Guerra da Coreia (1950-1953), o lugar mais importante que se pode visitar é a famosa DMZ, ou zona desmilitarizada, que fica no paralelo 38 e divide a Coreia ao meio desde o fim do conflito. Essa região, de desmilitarizada não tem absolutamente nada. Talvez seja a parte do mundo mais vigiada hoje em dia. Inclusive, antes de entrar lá, todos devem assinar um documento que diz que você tem consciência que está entrando numa zona hostil e uma ação inimiga pode resultar inclusive na sua própria morte. Obviamente ninguém vai ser maluco de fazer qualquer coisa não autorizada num lugar desses, né?





Estrangeiros podem fazer uma visita monitorada à DMZ pagando relativamente pouco. A visita dura um dia inteiro, e é possível conhecer o prédio por onde passa o paralelo 38, que divide as Coreias. Quando há turistas de um lado, não tem turista do outro. Por isso quando fui lá tinha apenas um soldado norte coreano do outro lado. A orientação é só fazer qualquer coisa quando o guia autorizar, não colocar as mãos nos bolsos, deixar câmeras e o crachá verde sempre à vista e não carregar qualquer tipo de mochila ou bolsa. O clima é tenso mesmo. 


À esquerda, Coreia do Norte. À direita, Coreia do Sul.



  


Pude conhecer também um lugar incrível, eleito uma das 7 maravilhas da natureza. A ilha de Jeju é um lugar lindo. A senhora Choi nasceu lá, então foi muito bom tê-la junto comigo nessa viagem, junto com toda a família. O lugar fica a apenas 1 hora de avião partindo de Seul. É bem pertinho se a gente comparar com o tempo que leva pra chegar de Belém a São Paulo ou qualquer lugar no Sul do Brasil, por exemplo. Quando você estiver na Coreia, não deixe de visitar Jeju. É perto, não é caro (dependendo da época do ano) e é muito bonito.











Um dos últimos lugares que visitei foi o Palácio Gyeongbokgung. Bem no início da viagem estive lá, mas não entrei. Dessa vez deu pra entrar e aproveitar toda a beleza desse lugar. Era onde os reis viviam e governavam. A Blue House, sede do governo coreano, fica exatamente atrás desse palácio. Algumas vezes por dia há uma cerimônia de troca de guarda muito bacana. Aí dentro ainda encontrei um grupo de estudantes coreanos que estavam entrevistando estrangeiros sobre suas impressões na Coreia e escrevi minhas impressões pra eles. Muito legal.










Depois de quase um mês em terras coreanas, minha última atividade não poderia ser mais relevante culturalmente. Exatamente um dia antes da viagem de volta era o Ano Novo Lunar, uma comemoração Asiática comparável às nossas festas de ano novo, que é o ano novo solar. Em outros lugares, essa comemoração é chamada de "Ano Novo Chinês". Lendo o blog de um brasileiro que vive na Coreia a muito tempo, ele disse que lá, chamar o Ano Novo Lunar de Ano Novo Chinês, é o equivalente a chamar o nosso ano novo de "Ano Novo Argentino". Eu não quis pagar pra ver, claro. 
Estando na casa de uma família tipicamente coreana, mas que tem a mente muito mais aberta em relação aos coreanos em geral, pude participar de toda a cerimônia de reverência aos antepassados e tudo mais. Ajudei até a preparar algumas coisas na cozinha. Fiquei muito feliz, porque não é todo dia que se tem uma oportunidade dessas. Obrigado à família Choi por isso. 








Contei aqui de forma muitíssimo resumida meu roteiro na Coreia. É impossível relatar aqui todos os lugares que visitei e as experiências culturais que vivi. Talvez eu queira guardar algumas só pra mim. Mas o que posso dizer é que me surpreendi em muitas coisas. A Coreia superou todas as minhas expectativas mais otimistas. Os coreanos são um povo que, ao contrário do que muitos pensam, é aberto e disposto a aprender com culturas diferentes e compartilhar a sua. Eles ficam extremamente felizes quando você demonstra interesse pela cultura deles. São capazes de desviar seu próprio caminho pra ajudar você na rua se estiver perdido. Por ser um país geograficamente distante do Brasil, nós não conhecemos muita coisa. Talvez quem more em São Paulo tenha algum tipo de contato, já que lá existe um bairro coreano. Só que é um pouco diferente de viver a experiência estando lá, em contato com a cultura 24 horas por dia. Entender o funcionamento das coisas me deixou impressões ainda melhores sobre o país. Tudo sempre muito limpo, organizado e absolutamente no horário. Entrar num banco sem ter que passar por um detector de metais é uma experiência que todo brasileiro deveria ter. Andar na rua à noite, bem tarde mesmo, com seu celular na mão olhando a internet sem o menor medo de ser assaltado também.   
A sensação que tive no último dia é que quero voltar ali muitas vezes. Talvez eu nunca tenha sido tão bem tratado em um país estrangeiro como fui nos dias na Coreia. Mesmo do Brasil, meus amigos coreanos falavam "se precisar de ajuda, estou aqui", "pode contar comigo se tiver alguma dificuldade por lá". A família Choi me recebeu de braços abertos, a senhora Choi e o Senhor Park me trataram como um filho, mesmo eu sendo um estrangeiro. Ji Sook e Yuni foram minhas irmãs por 28 dias. Não vou esquecer o abraço apertado do Senhor Park e as lágrimas carinhosas da Senhora Choi quando eu estava entrando na sala de embarque no aeroporto de Incheon. Tenho certeza que deixei minha segunda família lá. Só posso agradecer e dizer que quero voltar logo, de uma forma ou de outra.









Se você leu até aqui, muito obrigado. Quando vocês puderem, visitem a Coreia. É um país incrível.  
















   

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